astrid riecken
disseste-me que a eternidade
é de papel
com caracteres pequenos,
como as tuas mãos,
impressa a tinta
e leves rasuras,
tecido frágil após a queda
e bicicleta que se desprendeu da curva
viajo
nas ruas redondas de ti
onde me refaço
e amanheço,
ou me perco e enlouqueço
e me despedaço,
no adormecer de cada tarde
vazia de ti
disseste-me que a felicidade
se escreve com os teus dedos
e se lê pelos meus olhos
enquanto centenas de pessoas
que perderam o rosto
e esqueceram toda a linguagem
tropeçam no asfalto dos dias
à espera do esquecimento dos versos
nos teus olhos ousei escrever
o poema
que as minhas mãos escondiam,
para que os versos não se percam
nas curvas sem rosto,
nem resvalem sem rumo
nas rectas infinitas
por fora de ti
tudo me disseste…
em quase tudo acreditei…
[acaso saberemos nós a medida certa do corpo
algures entre a explosão do sangue
e a erosão do coração?]
por outros encantos & jorge pimenta
vangelis, el greco - movement IV