agora estáticas frouxas vencidas.
mas até a vida acaba em anagrama.
nos arquivos da memória do registo civil.
afinal a morte é o alicerce de todos os rostos.
lhasa de sela, rising
Replico aqui com o maior gosto, agradecendo, desde já, a distinção.
1. Existe algum livro que lerias várias vezes?
Os livros são os momentos. Por isso há livros que li três e quatro vezes em momentos diferentes e que não sei se não voltarei a ler: Viagens na Minha Terra, de Garrett; Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano; O Medo, de Al berto; Ofício Cantante, de Herberto Hélder; O Retrato de Dorian Gray, de Óscar Wilde, A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera…
2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste mas nunca conseguiste levar até ao fim?
Todos aqueles em que me não perdi…
Mas também há aqueles que, num determinado momento, não me seduziram, tendo-o conseguido mais tarde, o que sugere que o leitor é mesmo uma construção para onde convergem conhecimento, maturidade linguística e cultural, mas, sobretudo, todas as experiências e vivências individuais e interindividuais. É o caso de Ulisses, de James Joyce, por exemplo; só uns anos depois da primeira investida consegui chegar a Ítaca.
3. Se escolhesses um livro para leres no resto da tua vida, qual seria?
Um só livro não vale toda uma vida, mas a vida vale todos os livros que nela caibam.
Pensando num título: O Livro em Branco. Tenho a certeza de que no resto da minha vida ele acabaria por se compor com o essencial: a vida nas palavras.
4. Que livro gostarias de ter lido, mas que por um qualquer motivo nunca leste?
Tudo o que quis ler, li. Até mesmo O Crime do Padre Amaro, do Eça, quando ainda menino, às escondidas ou debaixo dos lençóis, à noite, em absoluta transgressão, “por não ter idade suficiente para as questões nele suscitadas”, na opinião da minha mãe. Agora, tenho a certeza de que há muito que ainda não “quis” ler mas que está na hora de começar a querer… António Lobo Antunes é, talvez, um dos casos mais prementes.
5. Qual o livro lido cuja “cena final” jamais conseguiste esquecer?
Boa! Só agora percebo que nenhum final me arrebata mais do que a magia com que se constrói o alinhamento narrativo. Um final só é excepcional se for bem preparado, bem alimentado na sua própria antecâmara. Arriscando um livro todo ele surpreendente [sendo o final igualmente irresistível]: A Metamorfose, de Kafka.
6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se sim, qual o tipo de leitura?
Cresci em redor de livros. Os meus pais têm uma excelente biblioteca e durante anos leram muitos e bons livros. Recordo-me de, na infância, ter lido aqueles livros que todos os miúdos do meu tempo liam (Os Cinco, Os Sete, ambas as colecções da Enid Blyton, O Diário de Anne Frank, Os Putos, de Altino tojal, muita BD – Astérix, Lucky Luke, Tintim, por exemplo), mas também clássicos, como as obras de Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco ou Soeiro Pereira Gomes.
7. Qual o livro que achaste “chato”, mas que, ainda sim, leste até final?
Todos os livros que li sob as instruções rígidas da escolaridade marcaram-me, num primeiro momento, negativamente. Alguns deles acabaram por ser recuperados, mais tarde, quando na sequência de leituras espontâneas ou de insistência. Presentemente leio/releio apenas aquilo que me agrada.
8.Indica alguns dos teus livros/autores preferidos.
Na poesia, toca-me particularmente a escrita de Al berto, Herberto Hélder, Nuno Júdice, Jorge Sousa Braga, Sophia de Mello Breyner, Rimbaud, T.S. Eliot, Pablo Neruda, Dylan Thomas, Ezra Pound…
Na prosa, sou um leitor indefectível de toda a obra de José Saramago, para além de ter um gosto especial (que me vem da juventude) pela obra dos neo-realistas (sobretudo Fernando Namora e Manuel da Fonseca). Num registo totalmente diferente, mas admirável (porque conhecedor do homem, mas sobretudo da mulher, das relações e dos afectos) é, ainda, a obra de Alçada Baptista (especialmente o Tecido de Outono). José Luís Peixoto é, para mim, hoje, um nome igualmente incontornável. Gabriel Garcia Marquez reveste-me na pele. Depois, ainda há os clássicos, com Eça à cabeça…
9. Que livros estás a ler?
Estou a terminar a segunda leitura [a primeira foi há quase 20 anos] de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Encontro-me na fase em que Ricardo Reis se confronta com todos os seus fantasmas, receios, delírios e até fantasias, projectados na indefinição em torno de questões como “regressar ao Brasil/montar consultório em Lisboa?”; prosseguir com os encontros fortuitos e carnais com Lídia/explorar os afectos quem sabe se com Marcenda?”. A funcionar como entidade sub/sobreconsciente, Fernando Pessoa, seu pai e criador, acabado de morrer, mas que continua a aparecer-lhe em imagem imaterial.
Leio, ainda, a poesia de Daniel Faria, em Os Líquidos, uma pechincha de 3€ numa feira de rua, em Lagos.
Depois, há todos aqueles que leio sempre que posso, nos blogues: Assis, Roberto de Lima, Rejane Martins, Cecília Romeu, Laura Alberto, Andy, Tânia Contreras, Cris de Souza, Outros Encantos, Analuz, Cid@, Ingrid, Dilso, Celso Mendes, Assíria, Lara Amaral, Suzana, Lívia Azzi, André, Priscila, Carla Diacov, Zélia, Sandra, Luíza, Vanessa, Ira Buscacio, Oceano Azul, Vivian, e tantos outros que ajudam a povoar o meu quotidiano leitor.